quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Afinal, quem é Viko Rezende?

Viko Rezende é um conceito, um Dom Juan da era digital. Não que seja uma entidade abstrata ou um conquistador mascarado espanhol. Ele foi criado por Silvio Monteiro no final dos anos de 1990 inicialmente para ser um Ghost Writer do Viamão Hoje, um site de noticias locais.

Entretanto, em razão de sua projeção nas Redes Sociais (como o extinto Orkut e mais recentemente no Facebook), ele acabou desenvolvendo uma espécie de vida própria, tanto que superou seu criador em popularidade. Atualmente Silvio Monteiro é apenas uma sombra de sua criatura. Enquanto o primeiro é mortal o segundo existirá para sempre!

Mas quem está por trás de Viko Rezende? Inicialmente, evidentemente, era o próprio Silvio Monteiro mas, em razão de Viko Rezende precisar ter um perfil ou estilo próprio que o diferencia-se do criador, foram lhe dando atributos de um escritor. Aos poucos ele foi adquirindo hábitos e trejeitos de outra pessoa, totalmente diferente e independente. Foi preciso então encontrar na rede de amigos, pessoas que gostariam de assumir a identidade dele sempre tentando manter esta essência de um escritor romântico, afastado da sociedade, morando em um recanto remoto numa casa de campo. Alguns rapazes se deram bem e outros nem tanto. 

Claro que as vezes ocorre da pessoa por trás da máscara (ou do fake como dizem hoje), perder a linha do escritor educado e partir para a baixaria o que é rapidamente corrigido. Assim. Seguidamente, vemos ele dizer “me pediram para falar isso” ou “a ordem agora e fazer aquilo”, em uma evidente total subordinação a alguém.

Para quem conhece o personagem conquistador Don Juan, sabe que ele era popular nas festas, principalmente nas altas cortes e em Veneza. Ele era tido como um amante excepcional e por isso, muitas moças sonhavam em ir a um determinado baile para, quem sabe, com muita sorte, dançar ou ter uma inesquecível noite com o mascarado sedutor.

Como ninguém sabia quem ele era, muitos espertalhões iam a festas fantasiados de Don Juan ou com outro vestuário, principalmente em bailes de máscara. Na segunda feira, nas “Redes Sociais” da época, pipocavam comentários de moças e senhoras que juravam terem tido uma noite maravilhosa com Don Juan. Assim ele poderia estar em vários lugares, várias cidades ao mesmo tempo. Por isso dizem que Dom Juan teve mais de 1500 casos amorosos.

Evidentemente que muitos maridos traídos foram a caça de Don Juan e muitos foram mortos por engano. Não se sabe até hoje se o verdadeiro morreu desta forma. Hoje, a situação se repete com Viko Rezende. Ninguém sabe quem está por traz em determinado momento e desta forma, sempre haverá alguém escrevendo, debatendo ou até mesmo conquistando o coração das mulheres.

Há de se fazer uma justa declaração: Viko Rezende jamais saiu de seu mundo paralelo, vamos assim dizer, para se encontrar com alguma garota no mundo real (que eu saiba é claro). Muitas vezes, quando ocorre de alguma se apaixonar pelo papo cativante do mesmo, ele revela que vive em um mundo completamente diferente, deixando a mesma sonhando com algo inacessível.  


Sendo assim, Viko Rezende é eterno. Uma criatura que superou o criador e ganhou vida própria e assim o será para sempre. 

domingo, 10 de janeiro de 2016

Pense bem antes de escolher um caminho

Uma simples escolha, por mais banal que possa parecer, pode mudar tudo. Tudo mesmo, desde sua vida até a história da humanidade e, quem sabe, do próprio Universo em que vivemos. Um bom mas batido exemplo seria se a mãe de Hitler estivesse em dúvida entre dois pretendentes. Com certeza se tivesse casado com outro nossa historia seria totalmente diferente. Pequenos eventos, sem importância num primeiro momento, podem fazer você continuar vivo ou não (Efeito Borboleta).

Imagine, por exemplo, que você trabalha em uma empresa no horário das 15:00 às 22:00 hs. Neste horário você não enfrenta transito e tem facilidade em estacionar seu carro, sem contar que pode almoçar tranquilamente em casa antes de sair. Mas, um belo dia você precisa trocar de horário e solicita para outro colega que entra as 12:00 hs. Vejamos um desenrolar fantasioso:

Você sai mais cedo de casa e não almoça pensando em fazer um lanche durante intervalo; entretanto,  seu colega, vai tranquilo para o trabalho após um calmo e farto almoço, regado a algumas doses de vinho. Infelizmente ele se envolve em um acidente fatal. Os familiares culpam você e alguns de seus colegas atribuem a perda do amigo apenas à troca feita. Claro, se ele não tivesse bebido talvez não tivesse se envolvido em um acidente (ou se não tivesse trocado de horário).

Evidentemente não podemos imaginar tudo o que poderá ocorrer em nossas vidas ao ter que escolher entre este o aquele ato e assim tentar se prevenir do que pode ou não acontecer. Eu particularmente tenho medo de mudar as rotinas das outras pessoas e mais tarde ocorrer algo como a historia acima. Não podemos imaginar o que poderá acontecer nos próximos vinte minutos!

Mas um homem, Pierre Laplace, imaginou um experimento mental denominado "Demônio de Laplace". Simplificando ele diz que, se um determinado Sistema (Maquina, Software  etc), possuir todas as variáveis de todos os elementos que determinam o estado do universo em um determinado instante, ele seria capaz de prever o futuro, tão claramente como se observasse o passado. 

Evidentemente tal coisa não existe e por mais que o Google tente, possivelmente jamais teríamos algo assim.  Talvez seja possível construir um sistema que possua informações de alguns elementos em um determinado conjunto fechado, como uma cidade por exemplo. Se ele soubesse os hábitos de cada cidadão, seus horários de trabalho, de estudo, que ruas costumam trafegar, o transito, propriedades de cada veiculo, o que comemoram no almoço entre outras informações, podemos imaginar algo que teria um certo grau de acerto.

Acredito que isso um dia poderá existir sim e muitas vidas poderão ser salvas apesar de que muitos acharão que seria uma intromissão nas suas vidas. Quando a Internet da Coisas estiver consolidada, com todos os objetos conectados, será a vez da Internet das Pessoas. Um mundo onde não nos tornaremos simples peças de uma grande maquina, mas seres importantes sendo observados e cuidados 24 hs por dia por maquinas e sistemas inteligentes que tentarão tornar nossas vidas próximas da perfeição.

Enquanto isso não chega, sempre é bom tentar prever o que nossas mudanças poderão fazer em nossas vidas e principalmente nas dos outros. Bom lembrar que desde o surgimento da Mecânica Quântica por volta da década de 20, varias ideias e teorias sobre isso surgiram. Uma delas afirma que, a cada escolha que fizermos, um novo Universo Paralelo é criado.

Voltando a historia que contei, noutro universo os dois colegas não trocaram de horário e continuam vivos e amigos. Mas podemos imaginar um terceiro Universo onde aquele que entra as 15 hs que gostaria de trocar de horário naquele dia, sofreu um acidente e veio a morrer. Ou seja, o acidente iria ocorrer de qualquer forma.

Se você gostou deste assunto, leia mais sobre Universos Paralelos em Abismo do Tempo.





sábado, 9 de janeiro de 2016

Por que gosto de andar de Trem



Seguidamente circulo entre as estações; as vezes vou e volto de uma ponta a outra.

Curto o movimento, o balanço, os ruídos de ferros batendo, da energia circulando nos cabos de eletricidade se misturando com o cheiro dos perfumes.

Vejo as cidades passando pelas janelas, vejo as pessoas pensativas. Imagino o que estariam pensando, paro onde estariam indo ou se estão apenas circulando por circular, como eu...

O trem preso a estrada de ferro parece a vida, que une nosso nascimento ao nosso fim, ao nosso destino. E as coisas são nos mostradas, são nos jogadas sem poder recusar. E não dá para mudar, a não ser que desçamos antes, em uma estação qualquer.

Talvez existam outros Universos Paralelos, unidos nesta estrada de ferro, com outras composições de trens indo e voltando. Não vemos as outras pessoas, não notamos os outros trens circulando mas quem sabe podemos apenas sentir seus perfumes, seus espíritos, suas presenças...

Por isso é tão bom viajar de trem!





A Boneca e o Coelho



Existem muitas versões desta bela e interessante lenda local. A mais conhecida conta que, certo dia, no inicio de um inverno, uma menina passeava com seus pais próximo a Itapuã (Viamão). Levava consigo seu coelho e uma boneca, cada qual em uma de suas mãos. Ela jamais se separava destes dois brinquedos. Mas, naquele dia, ao passar próximo à Lagoa, a boneca caiu nas águas e foi levada para bem longe. Quando seus pais notaram não era mais possível busca-la. Ela abraçou então seu coelho e chorou muito por um longo tempo.

Mais tarde, antes de voltarem para casa, ela foi, com seus pais, até a beira d'água. As ondas estavam calmas e ela esperava ver sua boneca voltar. Mas jamais voltou... Seus pais contaram uma historia, de que sua boneca havia ido morar numa bela ilha longe dali e que um dia ela iria buscar. Então, ela com apenas três ou quatro anos imaginou a solidão que sua amada boneca poderia estar sentindo. "Eu..." pensou a menina "Tenho meus pais, amigos, irmãos, brinmquedos... Mas e ela? Com quem irá brincar e conversar até eu ir busca-la?" .

Em seguida abraçou e beijou seu precioso coelho, falou algo em uma de suas orelhas e o jogou na lagoa para que fosse se juntar a boneca. Saiu relativamente feliz do local e mais tarde contou para seus pais por que fez aquilo. Ela contou que jogou o coelho de pelúcia que também amava muito e prometeu voltar e buscar os dois.

Muito tempo depois, um pescador ao chegar do outro lado, encontrou os brinquedos. O coelho estava tranquilo e a boneca olhava o horizonte, talvez esperando a menina voltar.



sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Porque chorei hoje

16/11/2012

Como algumas pessoas já devem saber, entre outras coisas que faço, trabalho com pesquisas para uma empresa Federal, no caso, o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Esta instituição não faz somente o censo como muitos podem pensar mas faz diversas outras pesquisas ao longo do ano. Uma delas é a tal PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. São selecionados em media 16 residencias em determinadas seções dentro de bairros e vilas e em seguida, vamos lá entrevistar os moradores destas casas selecionados ao acaso via computador. São dezenas de perguntas para todos os integrantes dessas famílias. Perguntas que envolvem Educação, Trabalho, Poder Aquisitivo, Fertilidade etc.


Alguns colegas apenas fazem as perguntas sem dar muita atenção à pessoa entrevistada (o que é recomendado em treinamento). Nada de papo, nada de entrar nas casas, nada de se envolver com as pessoas. Muitos moradores nem querem falar; entretanto, outras precisam ter com quem falar. Me considero diferente porque muitas vezes me envolvo com os problemas das pessoas o que é muito ruim para mim.

No final de 2011 fui até uma vila muito pobre que fica num município também muito pobre aqui na Região Metropolitana de Porto Alegre. Não vou dar detalhes em função do Sigilo de nossas pesquisas.


Após estacionar o carro embaixo de um arvore devido ao forte calor que fazia, bati palmas e aguardei  alguém aparecer. Era uma rua de chão, muita poeira. Não havia calçadas e nem mesmo meio-fio. Então surge uma senhora de cor clara, aparentando uns 25 anos. A primeira vista parece bem, pois tem formas arredondadas, braços relativamente grossos, cabelos longos e dentes muito brancos e bonitos. Ela sorri e começamos a entrevista. Bom deixar claro que essa beleza que falo é relativa à sua saúde.


Pergunto de seu trabalho e ela me informa que não esta trabalhando, esta afastada por doença. Pergunto o que ela tem e a resposta é Câncer. Fico profundamente chocado com a resposta mas tento não deixar ela notar. Ela me diz que esta fazendo tratamento e que Deus vai ajudá-la  pois tem muita fé. Pergunto então se é casada e se o marido trabalha. A resposta é que ele esta desempregado - "Até tinha um bom emprego mas é muito genioso" - diz ela. Ele estava a procura de trabalho.


Fico sabendo que o menino de pouco mais de um ano e que brinca descalço é seu filho. O menino, de cor parda, mostra também boa saúde e realmente tem ótima saúde. Puxou o pai diz ela sorrindo.


Noto também que ela arruma suas unhas e tenta levar uma vida como se tudo estivesse bem, porque talvez ela acredita realmente que Deus vá salva-la. Mas eu saio de lá preocupado com esse mulher que não tenho nada a ver. Sei que Ele, se existe, não vai fazer nada por ela. Ela vai nas seções de quimioterapia quando pode e compra medicamentos quando consegue.


O tempo passa. Estamos agora em 2012 e volto à esta mesma vila, que agora largaram uma brita preta sobre a estrada cheia de buracos. Por acaso resolvo estacionar o carro no mesmo local, mas cortaram parte das arvores aumentando ainda mais a sensação de calor.


Vejo um menino e o reconheço. Ele sorri na cerca de madeira. Desço do carro e ofereço um mapa do Brasil para ele que sai correndo mostrar para alguém. Sabia que ali morava aquela mulher que falei no ano passado. Como estaria? Estaria melhor? Teria morrido?


Surge então uma senhora e me pergunta se o mapa é para eles. Digo que sim e pergunto pela moradora da casa. Explico que entrevistei ela um ano antes. A senhora de cabelos brancos e mãe de criação me conta que esta cuidando dela. Largou tudo, inclusive seu emprego para cuidar dessa filha e do menino. Ela esta cada dia pior, acamada. O Câncer agora esta no figado e tem Metástases espalhadas. Sofre de dor as vezes.


Não escondo minha minha tristeza e pergunto pelo marido dela, pois sabia que no ano anterior ela morava com alguém naquela pequena e humilde casa. A senhora me conta que ele a abandonou, deixando-a doente com o menino, seu filho. Isso me deixa mais chocado. Mistura de raiva e pena dessa mulher que possivelmente se entregou com amor sim para esta criatura nojenta, que de nem de animal podemos chamar.


A senhora também diz que agora esta tudo nas mãos de Deus e neste momento vejo como é importante, em parte, estas pessoas terem pelo menos algo em que acreditar, pois nossa ciência ainda não pode cura-la. Volto para o carro e vejo a senhora e o menino completamente alheio a tudo irem para dentro da casa. E choro no carro por algo que eu não tenho nada a ver.


Agora,  aquela jovem mulher que um ano antes me recebeu sorrindo, mesmo com essa doença, padece no seu leito. Talvez sem esperanças em salvação, preocupando-se com o futuro de seu filho nas mãos de sua mãe que também não vai muito longe. Ela não sonhava em viajar pelo mundo ou ter um carro do ano. Seus sonhos eram simples, era ter uma família, um homem para ama-la e protege-la e que estivesse ao seu lado nas horas difíceis. Mas isso não aconteceu, não acontecerá. Nem ao menos um pouco de atenção, uma visita, um pouco de amor. Enquanto ela estava bem  este pilantra apenas a usou e agora, a joga para um canto para morrer longe de seus olhos, sem ouvir seu choro, não de dor, mas pelo amor que talvez não tenha existido.


(...)

(Segunda-feira, dia 19/12, devo voltar a esse local e talvez a visite)
Fui visita-la, mas ela já tinha morrido.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Guia de Etiqueta Urbana - Trensurb

Acredito que, assim como eu que adoro "viajar" de trem, muitas pessoas também sentem emoção semelhante ao deslocarem-se pelo Trensurb. Sempre que posso embarco na Estação Mercado e vou até São Lepoldo (ou mais além!).

Sei de pessoas que ainda não conhecem e sei também que tem pessoas como eu que sonham em um dia, quem sabe, a linha se estender até Viamão (ou pelo menos ao Campus da Agronomia). E para tornar a viagem ainda melhor, a empresa lançou o "Guia Etiqueta Urbana", com pequenos conselhos que provavelmente o leitor já cumpre mas sempre podemos aprender algo! Boa Viagem!


 
Guia de Etiqueta Urbana - Trensurb

Com o intuito de facilitar a convivência entre os usuários no sistema metroviário – e além dele –, a Trensurb iniciou em 2011 a veiculação de uma série de dicas de convivência nas estações, trens, bilhetes e em seu site. A campanha, denominada Etiqueta Urbana, foi ampliada no segundo semestre do mesmo ano, apresentando novas sugestões de comportamento.



Sugerida pelos próprios usuários através dos canais de atendimento da empresa, a campanha Etiqueta Urbana deu origem a dez dicas. Dando seguimento a essa política de civilidade e boa educação nos trens, elas foram agrupadas em uma nova campanha de comunicação, que será veiculada em material gráfico e digital a partir desta quarta-feira, 13. Também na quarta, serão entregues aos usuários exemplares do guia de Etiqueta Urbana, a partir das 10h na Estação Mercado.

Além da nova programação visual – a adesivagem indicando os assentos preferenciais, por exemplo, já pode ser vista em alguns trens – um grupo de teatro fará intervenções artísticas, chamando a atenção para as “etiquetas”, em blitzes culturais na Linha 1 da Trensurb.

Para o diretor-presidente da Trensurb, Humberto Kasper, a nova fase da campanha vem em momento oportuno. “Buscamos dialogar com os usuários do sistema para que, com pequenos gestos, contribuam para a boa fluidez dos serviços e o bem-estar de todos que utilizam a linha”, afirma.

As dicas e o guia

Com a perspectiva de ligação do metrô com o Aeroporto Internacional Salgado Filho através da tecnologia Aeromovel e de Porto Alegre sediar jogos da Copa do Mundo 2014, o guia Etiqueta Urbana tem textos em três idiomas: além do português, inglês e espanhol. A criação do material é da e21 do Grupo MtCom.
Confira as dez dicas contidas no manual que chega às estações e à web:

– respeite os bancos preferenciais;
– não obstrua as portas e acomode-se ao longo dos carros;
– mantenha-se à direita nas escadas;
– retire a mochila das costas;
– evite sentar-se no chão;
- use fones de ouvido ao viajar escutando música;
- não jogue lixo pelas janelas do trem;
- ao ler, não invada o espaço alheio;
- use o pega-mãos adequadamente;
- deixe livres as escadas para o fluxo de ir e vir.
Contato com a Trensurb:
Informações: (51) 3363-8477
Faleconosco: atendimento@trensurb.gov.br

www.trensubr.gov.br
www.twitter.com/trensurb
www.flickr.com/trensurb

Mensagens SMS 8463-9863 (24 horas )

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Sinais Digitais na Aldeia


Caminho por uma rua estreita e fedorenta, pois a meus pés, corre uma água escura que vem dos esgotos.
Ao mesmo tempo, uma enorme Caterpillar amarela me dificulta a passagem. Não há calçada, o espaço é limitado. O cheiro da sarjeta se mistura com o da máquina e a lama começa a grudar nos meus pés. Me encosto num muro pichado, fico rente a ele, assistindo o monstro de ferro passar.

As pessoas estão debruçadas nos muros, nas cercas, debruçadas em si mesmas e olham, admiradas, aquela geringonça arrebentando tudo pela frente. Arranca pedras, tampas de bueiros improvisados, pequenas árvores que indiferentes a tudo, gostariam de viver ali.

Olho os rostos das pessoas, dos jovens em especial. Alguns garotos de 14 ou 16 anos estão sentados no chão, uns fumando, outros com fones de ouvido, outros me avisando que vai chover e que a coisa vai piorar. Noutro canto, dentro de um pátio, um rapazote observa a movimentação. Sua roupa parece melhor dos que estão na rua. Tem um olhar triste, talvez por morar ali. Me mostra a barreira de terra que seu pai fez na frente do portão, para evitar que as águas das chuvas e esgoto, entrem na sua casa.

Não vejo quase meninas nem moças, apenas crianças que se divertem vendo o “progresso” chegar ``a sua rua. Parecem felizes, sorriem para mim mesmo pisando descalços na lama, nas águas do esgoto que corre mais forte agora. Numa casinha muito simples, escuto uma garota pedindo dinheiro para sua mãe para pagar o xerox. Precisa muito de algumas moedas pois está devendo na lan house onde imprimiu seu trabalho.

Ninguém nota, mas fico escutando todas as conversas, todas as fofocas, todas as denúncias de mulheres barrigudas que passam falando alto. Uma diz que vai cobrar pensão do marido que saiu de casa; outra diz que vão bater no filho acusado por outra vizinha de ter estuprado uma colega na escola.

Não queria estar ali, não é meu mundo. Ou este é mesmo meu mundo? Sento num degrau para esperar a máquina retornar de ré, é perigoso ficar no rastro dela. Vejo que muitas casas possuem pequenas antenas parabólicas de tv por assinatura; vejo aparelhos de ultimo tipo nas mãos de quem não pode comprar um pedaço de pão.

Noto que estou sendo observado. Fazendo de conta que estou olhando a numeração das casas, observo uma garota de rosa, dentro de uma casa de madeira. Uma casa muito ruim, de madeiras velhas, sem pintura. Ela tem o olhar triste, talvez esteja com fome; talvez com vergonha de morar num lugar assim; talvez não tenha um perfume, mesmo que fuleiro para colocar após o banho frio. Pior, talvez não tenha sequer um “modess” para usar!

Raios! Mas porque estou pensando nestas coisas? Meu trabalho é apenas comparar se os números das casas batem com a relação apresentada pelo meu PDA(*), simples assim. Apenas comparar o mundo real com o mundo virtual, sem sentir nada pelas pessoas, sem me envolver com o meio ambiente. Para a empresa para a qual trabalho, as pessoas são apenas números e eu sou apenas uma interface sem alma.

Sempre saberemos quantas pessoas existem, quantas são negras ou brancas. Sempre saberemos com exatidão quantas ganham mais de um salário minimo e quantas possuem acesso a celular. Mas jamais iremos saber ao certo quantas estão realmente felizes, porque isso não se mede em números e instrumentos mas sim, em profunda interação.